RACISMO NO BRASIL
Racismo explícito no Zorra Total relembra humor
segregacionista dos EUA
Publicado em Terça, 21 Agosto 2012 14:21
Nos Estados Unidos, o uso de atores brancos – ou mulatos –
com a cara pintada de preto, ou "blackfaced", em papeis que
ridicularizavam os negros foi prática comum nos tempos da segregação racial
Por: Jorge da Silva
Um quadro do programa Zorra total, da Rede Globo, tem
provocado indignação no público sensível aos problemas do racismo e da
discriminação racial no Brasil. Tem como protagonista uma mulher chamada
Adelaide – interpretada pelo ator – em que se concentram todos os estereótipos
negativos atribuídos às mulheres negras: é feia, desdentada, ignorante, e
costuma fazer referências pejorativas, por exemplo, ao cabelo dos negros. Um
combustível perfeito para o bullying que aflige as crianças negras,
especialmente as meninas, na escola e nos círculos de convivência, contribuindo
para manter baixa a autoestima de um segmento da população quotidianamente
adestrado a se sentir e comportar como inferior.
Infelizmente, o humor baseado em estereótipos raciais tem
uma longa tradição em nosso país. Não é preciso muito esforço para nos
lembrarmos de nomes como Grande Otelo (a despeito de seu reconhecido talento),
Gasolina, Muçum, Tião Macalé, que sempre representaram personagens associados
ao alcoolismo, à preguiça, à falta de cultura e de inteligência. Sem contar os
brancos pintados de preto, até hoje presentes nos programas humorísticos da TV.
Nos Estados Unidos, o uso de atores brancos – ou mulatos –
com a cara pintada de preto, ou "blackfaced", em papeis que
ridicularizavam os negros foi prática comum nos tempos da segregação racial.
Personagens como Aunt Jemima, Jim Crow (que poderíamos traduzir como Zé Urubu),
Zip Coon, Buck, Jezebel, Pickaninny, Uncle Tom, Amos 'n' Andy e outros, que
refletiam os mais grosseiros estereótipos a respeito dos afro-americanos e de
sua cultura, eram, não obstante – ou talvez por isso mesmo -, altamente
populares entre as platéias brancas. Na década de 1960, com o Movimento de
Direitos Civis, incluindo boicotes organizados por entidades como a NAACP, o
uso desses personagens se reduziu enormemente, embora continue presente, de
forma bastante atenuada, em algumas produções mais atuais.
Em Bamboozled (2000), que no Brasil ganhou o título de A
Hora do Show, Spike Lee faz uma crítica à tradição dos minstrel shows e do
vaudeville, gêneros baseados nessa estereotipia. Aos interessados, vale a pena
dar uma olhada no site black-face.com.
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