segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012


Funk, Mulher, Alienação e Capitalismo
(*) José Renato André Rodrigues

Hoje no Brasil se faz muita confusão sobre o que é funk, muitos ritmos surgem e desaparecem. A indústria cultural de acordo com o interesse do mercado muda nomes e fórmulas de determinadas manifestações artístico-culturais.
A origem do funk se deu nos Estados Unidos, assim com o blues, gospel, jazz e soul surgiram nas comunidades negras. A palavra funk vem do Inglês que quer dizer medo, embaraço pusilânime. James Brown é considerado um dos pais do funk; alguns críticos musicais consideram Michael Jackson e outros cantores negros estadunidenses como expressão deste gênero musical.
Entre nós o funk começa nos anos 1970 em plena ditadura civil-militar durante o movimento da Black Music. Alguns consideram Tim Maia, Jorge Benjor, Sandra de Sá, Gerson King kombo e outros. Dos precursores do ritmo em terras brasileiras dos anos 1970 ao atual ritmo considerado funk, muita coisa mudou da influência do Soul à batida de nossos dias cada vez mais o atual chamado funk demonstra não ter nada haver com a sua origem.
Entre o fim da ditadura civil-militar à volta da democracia burguesa durante os anos 1980 este ritmo musical não tinha ainda muita força e espaço nos grandes veículos de comunicação de massas. Vivia-se o auge do chamado rock Brasil, consolidava-se o rock brasileiro como expressão da juventude que resistiu à ditadura civil-militar e denunciava as injustiças e os anseios da jovem geração, onde rádios como a Fluminense FM 94,9 na cidade de Niterói, estado do Rio de Janeiro divulgavam, bandas como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Pleber Rude, Garotos Podres, RPM, Ira, Ultraje a Rigor, Barão Vermelho e outras bandas eram expressão deste momento histórico da sociedade brasileira, e com o avanço do neoliberalismo na passagem dos anos 1980 para 1990 o rock começa a perder alguns espaços na mídia e passa a se restringir a um determinado público específico e se consolida como um nicho de mercado.
A partir do neoliberalismo, o período é marcado pelo pagode mauricinho, pelo breganejo criticado por Lulu Santos por conta do apoio a Collor nas eleições de 1989. Enquanto isso, o funk carioca se espalha pelas comunidades pobres de todo o Rio atingindo até as academias de ginástica da chamada classe média da zona sul do Rio.
As primeiras músicas falavam em amor, amizade e problemas sociais. Quem não se lembra da música do Silva, hoje este ritmo assim como o cenário da música brasileira apoiada pela grande mídia mudou para pior. Hoje este ritmo do chamado funk carioca, assim como outros gêneros musicais como a música baiana, passou a explorar a sexualidade e a pornografia, onde o sexo é visto não na forma de prazer responsável e libertário, e sim como objeto a ser consumido de forma irresponsável e vulgar onde o sexo é praticado na forma do salve-se quem puder, refletindo uma sociedade alienada nas letras, nos bailes, nas roupas das dançarinas e cantoras do funk, do axé etc. A situação, todos sabem: meninas grávidas precocemente e abandonadas e os meninos pais sem emprego, formação ou vítimas da violência urbana onde crianças crescem sem uma estrutura familiar com todas as possibilidades de reproduzir o eterno ciclo de alienação e miséria em que vegetam.
Hoje o atual funk carioca nada mais é do que alienação e fuga da realidade em que vive a maioria dos jovens das camadas mais pobres da nossa sociedade. Este tipo de música não tem nada de contestador, fazem apologia às drogas, ao papel submisso da mulher, aos grupos milicianos e dos grupos dos soldados do comércio varejista de drogas. Sem falso moralismo ou hipocrisia, este tipo de música não contribui em nada para elevar a consciência das massas exploradas pelo capital.
Estes ritmos são apoiados e incentivados até por lideranças políticas ligadas a burguesia para incentivar a vulgaridade das mulheres que através da exposição de seus corpos como mercadoria, sonhando como as dançarinas do funk acender socialmente, talvez casar ou engravidar de algum artista, jogador de futebol ou conseguir algum contrato para alguma revista masculina. Na prática, é muito difícil  isso ocorrer porque nem todas poderão ter as mesmas chances como ocorre na sociedade capitalista, nem todas vão poder dar o golpe do baú e se tornar marias chuteiras ou amantes de empresários, artistas e etc.
A grande maioria vai se tornar amante de policiais corruptos ou mulher de gerentes do comércio varejista de drogas, e gozar de um poder ilusório até quando a burguesia não precisar mais e estas mulheres vão amargar as prisões ou encontrar a morte.
Não existe uma política cultural voltada para os filhos das classes trabalhadoras, assistir um bom show de música é muito caro e alguns ritmos musicais antes considerados populares se elitizaram tornando-se inacessíveis às grandes massas, e o poder público por outro lado não procura criar condições para tornar acessível nem democratiza para as grandes massas bens culturais criados pela humanidade. Qual a saída para esses jovens? Ir às casas de shows baratas com seguranças autoritários em sua maioria policiais, ser vitima da violência, ir ao baile funk e lá saudar os Mc’s totalmente manipulados pelos soldadinhos do comércio varejista de drogas até porque o grande traficante não estará lá, mas mora nos bairros elegantes da burguesia; com isto causam a alienação nos nossos jovens tornando-os domesticados e adaptados ao status quo.
É preciso fazer uma distinção, popular não é popularesco ou lixo. Se fosse assim não teria surgido o chorinho, o samba, o maracatu, o bumba meu boi, o Blues, o jazz, o rock, o sertanejo e etc. São incontáveis os artistas populares como Cartola, Nelson Cavaquinho, Gonzaguinha, Luiz Gonzaga, Djavan, Jovelina Pérola Negra, Beatles, Elvis Presley, Black Sabbath, Chuck Berry, Jerry Lewis, The Who, Sex Pistols e tantos outros. Até um palavrão em uma música deve ter um sentido como faziam os Titãs, Legião Urbana, Ultraje a Rigor. Hoje o palavrão nas músicas do funk carioca não contesta nada, apenas contribui para a alienação.
É necessário resgatar a autêntica cultura popular ligada às massas trabalhadoras, cultura não só para entreter e sim levar à reflexão e conscientização da população através das artes. Devemos buscar uma cultura popular que promova a contra-hegemonia e que coloque as massas em movimento e aponte a necessidade histórica da revolução socialista como a única saída capaz de libertar a população e quebrar esse círculo vicioso em que vivem as massas exploradas pelo capital .

(*) José Renato André Rodrigues – Professor de Filosofia; membro do Comitê Central do PCB

fonte:http://coletivorosadopovo.blogspot.com/

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

UM CARA SENTADO


Um cara sentado
Um cara bolando sentado
Um cara pensa sentado
Um pensamento bolado de existência
Um bolado pensamento de castração
E de impotência

Uma rachadura no meio

De que lhe vale a vida, afinal?
Instauram-se odes ao lucro
E a alienação coletiva
Nada mais é como era
Nada será como é
E assim todo individualismo retardado
Permanece intacto, como nos contos infantis.

Bruno Maniuc
PCB/Guarulhos

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012


A Semana no Olhar Comunista - 0028
08 Fevereiro 2012 Classificado em PCB - A Semana no Olhar Comunista

Direitos humanos sim, principalmente nos Estados Unidos

A declaração dada pela presidente Dilma Roussef, em Cuba, no dia 1º de fevereiro, em resposta a perguntas da imprensa sobre a “questão dos direitos humanos” naquele país, de que o tema não deve ser usado como arma política e que deve ser tratado de forma abrangente, por todos os países, teve um alvo claro: os EUA e sua política de falar uma coisa e fazer o contrário. Citando o exemplo da base de Guantánamo, mantida pelas forças armadas norte-americanas em solo cubano, onde se realizam, assumidamente, práticas de tortura sem qualquer respeito a leis internacionais. Mas é bom lembrar que os Estados Unidos e seus aliados imperialistas não apenas violam direitos humanos em seus territórios mas também exportaram estas violações não apenas na forma de apoios efetivos a ditaduras sanguinárias, como nos casos do Brasil Argentina, Chile e outros países, em décadas passadas, mas também na sustentação que dão, hoje, a monarquias absolutistas e regimes semelhantes, onde não há sequer uma Constituição ou Parlamento, onde mulheres não há direitos civis plenos, como nos exemplos de muitos países árabes e em muitas partes do mundo.

http://pcb.org.br

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012


De volta à prancheta

Para aquele que vivem a dizer que só faço criticas, vou mostrar que estão redondamente enganados, assim os deixarei azul de raiva e com sorriso amarelo.
E digo isso por quê? Porque para o bem do combalido carnaval botucatuense, eles mudaram de idéia, e também o regulamento do carnaval de nossa cidade.
Parabéns a comissão organizadora, acredito que o bom senso prevaleceu. Mas fica um recadinho, que nos próximos esta faculdade continue a ser usada, para evitar as polemicas, pois quem deve aparecer no carnaval são os foliões juntamente com sua arte e não os membros da organização.
Por hoje é só pessoal...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012



 Que dificuldade...

Quando o escritor e jornalista Sérgio Porto, sob pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, em 1968 escreveu o Samba do Crioulo Doido, muitos acreditaram que se tratasse uma paródia as imposições do Departamento de Turismo da Guanabara, que só permitia as escolas de samba enredos ligados a historia do Brasil. Mas eu vou um pouco além acredito em profecia.
Muitos devem estar pensando que este que escreve é que endoidou, mas ao continuar a leitura poderão perceber que se trata da mais pura verdade. Basta ver o que vem acontecendo no carnaval botucatuense.
A criatividade que deveria ficar com as escolas de samba e blocos participantes da folia carnavalesca fora transferida para os organizadores do evento, pois a cada ano que passa tem coisa nova, que não vem para contribuir, mas sim para criar polemica.
No ano passado Rainha de Bateria foi quesito de julgamento e desempate, para este ano os vencedores serão as agremiações que se apresentarem para os desfiles com o maior numero de componentes, coisa de doido é contar sambista na concentração. Como será feita esta contagem para que não tenhamos folião contado duas ou mais vezes, farão um numero na testa de cada um?
Desta forma a quantidade vai superar a qualidade. Enquanto eles ficarem engendrando estas formulas mirabolantes para organizar nosso carnaval, o sucesso do evento será duvidoso, com muita discussão e pouco progresso.    

sábado, 4 de fevereiro de 2012



Democracia, segurança pública e a coragem para agir na política   (Edson Teles)

Democracia com violência de Estado e especulação imobiliária: duas questões cruciais que nos chamam a atenção nos recentes episódios de ação da Polícia Militar do Estado de São Paulo, para “restabelecer a ordem e a legalidade”, os quais se configuraram como violentos e sem eficácia do ponto de vista do interesse público.

A chamada Cracolândia (nome aparentemente cunhado pela grande mídia que, de certo modo significante, remete a um lugar de diversões, a estilo do nome do parque Disneylândia) e o bairro Pinheirinho, em São José dos Campos, têm algo em comum além do fato de terem sido o palco das recentes violações de direitos sofridas por parte de uma parcela da população que parece não ter “direito a ter direitos” (nas palavras críticas de Hannah Arendt). Ambos os locais possuem em comum o fato de serem áreas de forte especulação imobiliária.

Os usuários de crack do centro de São Paulo encontram-se na região que o governo definiu para a execução do projeto “Nova Luz”, em referência ao discurso que assinala esta área como decadente, repleta de marginais, abandonada, suja… Neste projeto higienista, a Prefeitura pretende vender ao sistema privado o direito de desapropriar e estabelecer as prioridades da nova ocupação do bairro de acordo com interesses particulares, em detrimento do bem público. A área classificada pelos governos como abandonada sedia um dos maiores centros brasileiros de comércio de equipamentos eletrônicos e de informática. Quem já foi à Santa Efigênia, ou mesmo à rua 25 de março, constata, ao contrário, a decadência da presença do poder público, com ausência de serviços essenciais, inclusive os de saúde pública, como a limpeza das ruas. A ação repressiva da PM somente espalhou os chamados craqueiros para outros locais da região central, passando longe de ser solução, mas abrindo a possibilidade de formalizar o “progresso” imobiliário e comercial da região.

No bairro Pinheirinho, o conhecido especulador financeiro Naji Nahas detém, por meio de uma empresa falida, de sua propriedade, a área de moradia de quase 1.600 famílias. Pertencente a um casal de alemães mortos em 1969, não se sabe ao certo como o terreno, de posse do Estado por falta de herdeiros legais, acabou como propriedade de Nahas. Sabemos que o Estado, via decisão de uma juíza de São José dos Campos, confirmada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, determinou o despejo deste enorme contingente de pessoas, sem lhes garantir o direito à moradia, autorizando jogá-las na incerteza da ausência de um teto, inclusive com o uso de cassetetes, balas de borracha e gás de pimenta. Autorizado pelas leis, o governo optou pela violência em lugar de discutir uma alternativa de moradia ou mesmo de permanência no local.

Em várias ocasiões, na história da humanidade, pudemos ver a cena de pessoas amontoadas, crianças, idosos, doentes, sem seus pertences. Normalmente, fruto de algum tsunami ou catástrofe natural, ou mesmo de uma guerra. Em Pinheirinho, vimos a mesma cena, contudo, provocada pelo Judiciário e pelo governo do Estado, com o apoio do aparato repressivo da Polícia Militar. É chocante.

De fato, o poder público, aliado ao interesse privado da especulação, coloca-se favorável a uma ideia da expansão imobiliária como sinal de desenvolvimento. É histórico, em qualquer área urbana, que tais “reformas” levam a uma valorização financeira do metro quadrado, lançando a população pobre para além dos limites das atuais condições já precárias de moradia. Para que o projeto especulativo se concretize nestas áreas é necessário limpá-las da presença dos pobres. Leiam o comentário postado na página da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo:

“Após a limpeza, já era possível circular tanto a pé como de carro pelas alamedas Cleveland, Dino Bueno e Glete e a rua Helvétia, que ficam no entorno da praça Júlio Prestes. Locais que eram usados como esconderijos e moradia dos usuários de drogas foram desocupados e estabelecimentos comerciais funcionavam normalmente.” (03.01.2012)

Experimentamos, nestes casos, uma clara demonstração de um projeto autoritário para as relações entre o poder público (podemos ler, inclusive, o Estado de Direito) e a população. Apesar de a Constituição brasileira tratar o direito à moradia como absoluto e o direito à propriedade como relativo à sua função social, o Estado, por meio de seus diversos poderes, em caso de conflito, tem atuado em favor do “desenvolvimento”. Para tanto, tem feito uso sistemático, especialmente em São Paulo, de uma Polícia Militar cada vez mais violenta (nunca esta instituição matou tanto na última década quanto no ano de 2011!) e repressiva (espanca estudantes da USP dentro do campus). Sua organização e disciplina, subordinadas ao comando do Exército, são regidas pelas mesmas regras impostas pela Constituição outorgada pela ditadura em 1969. Com a mudança do regime de exceção para a democracia, não houve a revisão ou reforma das instituições ligadas à segurança nacional e pública, mantendo nestes setores uma ideologia agressiva com a população não proprietária e garantindo a impunidade para as violências praticadas por seus agentes.

Tal situação evidencia o modelo que os setores patrimonialistas e da elite brasileira, com a anuência da classe média e o silêncio amedrontado de uma parcela da esquerda que perdeu seus compromissos de classe, escolheram para uma democracia limitada, muitas vezes de fachada com um verniz reluzente, outras vezes com características autoritárias.

Vivemos um momento grave de nossa vida social em que precisamos refletir sobre qual democracia queremos e, mais do que isto, agir com radicalidade para denunciar um modo autoritário e manipulador de se fazer política. Conflitos como os vividos neste mês de janeiro em São Paulo demandam daqueles que se sentem ofendidos por tamanha violência uma atitude corajosa de ruptura com o modelo conciliatório da transição “lenta, gradual e segura”, sob o qual construímos o nosso Estado de Direito.

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Edson Teles é doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), é professor de filosofia política na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Pela Boitempo, organizou com Vladimir Safatle a coletânea de ensaios O que resta da ditadura: a exceção brasileira (2010). Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às quartas.
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Para aprofundar a discussão sobre a herança social, política e cultural da ditadura militar, recomendamos a leitura de O que resta da ditadura: a exceção brasileira (Boitempo, 2010), coletânea de ensaios organizada por Edson Teles e Vladimir Safatle, agora também disponível à venda em ebook nas livrarias Cultura e Gato Sabido.

http://boitempoeditorial.wordpress.com/category/colunas/edson-teles/

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012


Mais um compromisso cumprido...

Como dizem os arautos das boas novas.
Foi anunciado e apresentado a população botucatuense os novos veículos da mais nova empresa de transporte coletivo que irá operar em nossa cidade Viação Sant´anna.
O compromisso que está sendo cumprido pela administração municipal vem com três anos de atraso. Em breve teremos duas empresas de ônibus no sucateado sistema de transporte publico de nossa cidade.
A alteração no nome da empresa que hoje atende a comunidade local vai parecer que as coisas realmente mudaram, pois carros novos pintura e nome de empresa diferente, mas quando souberem que a noiva só mudou a roupa , ficaram arrepiados.
Onde tem camaleão lagartixa também muda de cor.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012


Insurreição do Queimado no Brasil é um marco da luta pela liberdade

África21 - [Jaqueline Freitas] A revolta nasceu de uma promessa não concretizada de liberdade, feita pelo frei italiano Gregório José Maria de Bene aos escravos da localidade de São José do Queimado.

O dia 19 de março de 1894 é um dos mais significativos do calendário da cultura negra. Nesta data, aconteceu a Insurreição do Queimado, esse emblemático episódio da história afro-brasileira. E apesar dos escassos registros sobre o assunto, a data é lembrada e celebrada, principalmente, no Estado do Espírito Santo, onde ocorreu o grito de liberdade dos negros escravizados.

Principal movimento contra a escravidão ocorrido no Espírito Santo, a Insurreição do Queimado é resultado da construção de um processo político de conquistas e foi um marco na história da negritude capixaba. Contam os pesquisadores que a revolta nasceu de uma promessa não concretizada de liberdade, feita pelo frei italiano Gregório José Maria de Bene aos escravos da localidade de São José do Queimado, hoje distrito do município de Serra.

Tido como defensor dos ideais de liberdade, o missionário tinha interesses políticos em construir uma igreja na região, e teria garantido a negociação da alforria com os donos de fazendas, em troca da construção do templo pelos escravos. Há relatos de que o frei não teria garantido nada, e, sim, prometido interceder junto aos fazendeiros para obter a concessão da alforria. Consta, ainda, que ele realmente não admitia a escravidão e que teria estabelecido uma estreita ligação com os escravos, o que preocupava e contrariava quem usava a mão de obra escrava para enriquecer.

O fato é que o não cumprimento do que fora interpretado como uma promessa deflagrou uma rebelião. Relatos de descendentes dos sobreviventes apontam que mais de 300 homens, mulheres e até crianças manifestaram o inconformismo – afinal, a igreja fora entregue pronta antes do dia de São José, conforme combinado, e resultara de muito tempo de árduo trabalho. Conta-se, também, que o templo foi construído com pedras divididas por tamanhos, e carregadas por longas distâncias e subidas íngremes; as pedras pequenas, do tamanho de um punho, eram destinadas às crianças, algumas com apenas seis anos de idade.

O movimento foi caracterizado por extrema violência, especialmente na contenção, por parte da Polícia da Província, e durou cinco dias, até a prisão de seu principal líder, Eliziário Rangel. A maioria dos escravos foi brutalmente assassinada e seus corpos jogados na hoje chamada "Lagoa das Almas".

Alguns sobreviventes foram para o município de Cariacica, onde fundaram o Quilombo de Rosa d' Água. Além de Eliziário, os outros líderes foram Francisco de São José (o "Chico Prego") e João Monteiro (o "João da Viúva"). Chico Prego e João da Viúva foram enforcados, mas Eliziário protagonizou uma lendária fuga – saiu pela porta da cela deixada aberta –, no que foi considerado pelos escravos como um milagre atribuído a Nossa Senhora da Penha, padroeira do Espírito Santo. Na verdade, o carcereiro, penalizado com os maus tratos impostos aos negros, confessou, depois, ter facilitado a fuga.

Elisiário tornou-se uma lenda para os negros que sonhavam com a liberdade, e foi alcunhado como o "Zumbi da Serra", em alusão ao herói do Quilombo dos Palmares. Chico Prego ganhou estátua em uma praça no município da Serra, e seu nome batiza a Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

Sugestões de leitura

Insurreição do Queimado, de Afonso Cláudio de Freitas Rosa. Escrito e lançado ainda durante a vigência da escravidão, o livro foi publicado em 1884 e constitui a primeira narrativa monográfica acerca do episódio. O autor foi conhecido abolicionista e republicano.

Revolta Negra na Freguesia de São José do Queimado: escravidão, resistência e liberdade no século XIX na província do Espírito Santo (1845-1850), de Lavínia Coutinho Cardoso. Dissertação de mestrado em História, apresentada em 2008 na Universidade Federal do Espírito Santo.


The New World Order.... Must See - À Voir D'Urgence